Sobre amadurecer

Crescer é inevitável. Nada é tão incontestável quanto essa certeza. Esperamos a infância inteira para termos finalmente dezoito anos, como se em um passe de mágica tudo pudesse ser refeito, e então em um golpe certeiro, a vida nos entrega a um estopim rarefeito de surpresas, ilusões, inconfundíveis expectativas que nos dilaceram as facilidades esperadas e nos coloca diante de uma realidade qualquer, seja ela entediante, cansativa e demasiadamente triste.

Tornar-se grande. 

Somos um compilado das coisas que vivemos e sentimos, e ninguém mais além de nós consegue entender essa bagunça que, no campo da experiencia pura, é sentida unicamente por nós. Tenho, por inúmeras vezes, o deslumbre de estar em um campo de batalha, na linha de frente, segurando todas as armas com apenas minhas tremulas mãos, pronta a guerrear contra os pequenos universos, que na calada da noite, se formam sobre mim.

Talvez não seja uma guerra, talvez estejamos somente no mesmo barco, um elo que nos torna ligados a uma corrente inquebrável, alguns alguns ancorados no mesmo lugar, outros remando firmemente para seguir em frente, outros tentando desistir do remo antes mesmo da tempestade chegar. Se os ventos soprarem para o lado contrário, nunca se esqueça dos remos. 

E por mais que crescer seja a forma mais inconsciente de afirmar que não possuímos tanta liberdade assim, ainda temos o livre-arbítrio de escolher, porque não paramos de crescer quando completamos quinze anos, ou dezoito anos ou quando chegamos aos vinte e poucos, porque ainda assim podemos escolher como se dará esse processo, e quando escolhemos o que queremos fazer, o que desejamos ser e o que precisamos conquistar e nos damos conta também de como chegar lá, esse processo de crescer para de ser chamado de crescimento e torna-se amadurecimento.

Mas não é fácil, porque todos os dias é uma pequena batalha, provavelmente você já deve estar de saco cheio de ouvir isso, porém nunca foi tão verdadeira a ideia de que acordados para enfrentar uma luta que talvez não queiramos encarar e que talvez não tenhamos forças o suficiente para vencê-la, pelo menos não todos os dias, porque amadurecer é suportar os altos e baixos que a vida reserva para cada um de nós em silêncio, engolindo choros.

Nesse processo de amadurecer, de saber que a vida é tão traiçoeira quanto qualquer outra armadilha, alguns de nós não estão preparados o suficiente e não há nada de errado ou estranho em assumir que a pausa faz parte do processo, que a parada para uma reflexão é sempre bem vinda, que sentar-se na beira do mar para se pensar o caminho é melhor que seguir qualquer um, mas é difícil, porque nos cobramos de um jeito excessivo, e muitas vezes a própria cobrança atrapalha nosso amadurecimento. 

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