Eu escolhi desistir de nós


Fico me perguntando o que teria acontecido se a gente tivesse continuado juntos. Eu sei que fizemos vários planos, desde a nossa próxima viagem até como seria o nosso casamento, quais seriam os nomes do nossos filhos e até discutimos se teríamos um gato ou um cachorro. Fizemos algumas promessas que não serão cumpridas, desenhamos um futuro que agora já não existe mais, porque cada um precisou seguir em frente sozinho, deixando uma história inacabada, algumas páginas incompletas que agora não dá mais para voltar atrás e tentar preenchê-las. 

Mas eu tenho um defeito: odeio deixar as coisas pela metade, e saber que deixamos uma parte do que construímos em algum ponto do passado me sufoca, porque eu sempre me vejo perguntando a mim mesma o que teria acontecido se tudo tivesse sido diferente, se aquela briga nunca tivesse existido, e se tivéssemos tentando apagar as pontas soltas que ficaram entre nós. Ninguém me avisou sobre as decepções, sobre a dor que fica e não vai embora, ninguém me contou sobre as partidas repentinas e  muito menos sobre o aperto que não dá para evitar, mas se alguém tivesse me contado sobre o inesperado que a vida reserva, eu também não teria acreditado, porque parecia que ia dar certo, mas só pareceu mesmo. 

A gente não vai mais conhecer todas as praias que listamos ou fazer aquelas viagens de fim de ano que sonhávamos, não iremos comemorar os próximos natais e nem assistir a queima de fogos juntos da varanda do meu prédio. Não vamos mais precisar discutir o futuro, nem escolher qual será o sabor da pizza em uma noite de sábado enquanto assistimos Netflix, não vamos mais escolher na sorte a qual lugar iremos no próximo fim de semana, porque a gente sempre terminava em discussão, lembra? Sabe toda aquela ideia de traçar juntos as metas e objetivos? Então, pode ir esquecendo; aquele papo todo sobre construir uma família, sobre comprar uma casa próximo da praia, juntar dinheiro para irmos a Portugal, pode deixar pra lá também.

Talvez você deva estar se perguntando o que acontece quando uma história de amor chega ao fim, quando chega um momento em que não haverá nenhum capítulo a mais para acalmar o coração e nem preencher as lacunas que ficaram. Não é porque precisou acabar que eu vou arrancar tudo de você que ainda existe aqui dentro, não dá. Levo um pouco de você no meu jeito leve de ver a vida, levo as suas manias no peito, seu orgulho irreparável que me fazia te amar cada vez mais, na playlist do celular tem até alguns rock's que aprendi a ouvir graças a você, embora eu jamais tenha abandonado meu gosto pelo sertanejo, que no começo você tanto odiava, mas acabou se acostumando.

Mudei cada pedaço da nossa história, e de algum jeito, o que tivemos também me mudou. Todas os planos que criamos, os rascunhos que fizemos, as nossas brigas, os gritos que ninguém esperava, as risadas que duravam horas, a raiva de segundos, os beijos repentinos, os almoços de domingo, a sua comida que eu tanto amava, as declarações que vinham com tanta naturalidade... Não dá simplesmente para apertar um interruptor e excluir todos os meses que passamos tentando decifrar e conhecer um ao outro, porque cada construção mal feita ou concluída, cada tombo do seu lado, tudo isso me transformou, e eu não posso arrancar você de mim. 

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