642 coisas sobre as quais escrever #7



07/642 - Descreva uma pessoa excêntrica em ação.

Seus passos eram rápidos em meio a paisagem noturna que a rodeava. Ela contou mentalmente os segundos que pareciam restar para alcançar a outra faixa da pista, em uma correira que fazia seus pulmões arfarem; a desistência parecia a única escolha certa a ser feita, pois acreditou que não fosse mais possível alcançar a rapidez com que o ônibus seguia, mas ele parou e ela finalmente embarcou. 

Ainda sem fôlego, pensou em qual ponto da grande cidade ele poderia estar. Olhou rapidamente para todos os bares abertos esse horário e imaginou vê-lo de deslumbre, apenas uma sombra projetada dele, porém não o viu em nenhum canto por onde passou. Seus pensamentos vagavam distraídos por inúmeras sensações diferentes, entre culpa, medo e insegurança; tentou amenizar o efeito agonizante de cada observação que se deixava levar, porém não conseguiu por completo. 

Chegou ao destino e seus pés tremeram quando percebeu em um rápido e traiçoeiro instante o que aconteceria se esbarrasse novamente com ele, mas acreditou que fosse impossível e que a sorte - ou  o azar - não seria capaz de acompanhá-la por tanto tempo. Deu uma pequena volta no túnel que abria caminho para a outra parte da estação de trem e virou o quarteirão quase querendo parar. 

Então seu corpo inteiro se arrepiou, no entanto não de frio, pois uma fraqueza repentina a pairou por inteiro naquele instante. Ela quis se despir de si mesma e dar meia volta, esperar um pouco mais até convencer cada célula do seu corpo de que não passava de uma miragem, mas não conseguiu refazer a imagem tremeluzente dele, a sensação de derrota e ao mesmo tempo de satisfação a dominou. Ele estava lá, encostado na parede como se a esperasse há anos, mexendo de maneira distraída o celular até que levantou o olhar até ela, sorrindo sem jeito enquanto ela se aproximava em passos lentos.

Ele a viu. Não havia outro jeito de fugir, nem se ela tentasse uma única vez. Seu coração estava acelerado como um avião em decolagem, como se fossem quinhentas batidas por minuto, o sangue fervia, o corpo começava a se encher de um calor inesperado.

- Porque você não me mandou mensagem avisando que estava aqui? - ela o questionou, um pouco mais irritada do que o normal, porém cada espaço da sua pele era queimado por um sentimento estranho de anseio e vontade. 

- Não achei necessário. - ele respondeu, e após um curto instante de silêncio, voltou a falar. - E o meu presente?

Ela sorriu, tentando disfarçar cada parcela de culpa e insegurança que sentia. 

- Parabéns. - então, pelo olhar que ele desferiu ao ouvi-la, a garota percebeu de imediato que não seria o suficiente, e que promessas não poderiam ser quebradas, pelo menos não enquanto elas estiverem pairando sobre ambos. - Eu vou te dar um abraço. 

Com seus braços trêmulos, ela o envolveu em um abraço e sentiu de relance o cheiro suave do seu perfume sob o seu pescoço enquanto ela o pressionava por alguns segundos, sentindo cada pontada que o corpo dele a fazia sentir e como percebeu que era aconchegante e quente tê-lo tão perto. Próximo demais para sentir o seu hálito de cerveja, que não a incomodou tanto quanto a culpa que sentia, mas era uma explosão tão real de adrenalina e um mix de emoções que deixou ele aproximar seus lábios do seu e a beijasse, intenso e demasiadamente intenso. 

[fim, literalmente]

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