Na Natureza Selvagem | Filme

Minha escolha de filme para a última noite foi um pouco inusitada. Escolhi deixar de lado as ficções e fantasias para reviver uma história real, baseada na vida de um jovem que aos 22 anos decide deixar tudo o que construiu para trás, não diz adeus a ninguém de sua família, e após se graduar no curso de Antropologia e História, vai embora na intenção de se aventurar por cada canto desconhecido do mundo com o único objetivo de chegar até ao Alasca e se manter isolado de qualquer tipo de relação humana. 


Christopher McCandless é um americano nascido em uma família totalmente rica, porém isso nunca foi o suficiente para alcançar uma vida feliz e realizada. Sempre faltou algo para deixá-lo totalmente completo, e ele sempre soube que nenhum tipo de luxo e ganância seria capaz de roubar um dos seus maiores sonhos: ser livre das prisões que a sociedade exige que fiquemos presos. Para Chris, a liberdade está no topo de suas maiores aspirações. Sua ideologia o levou a atravessar fronteiras, diversidades culturais, regiões perigosas e fazer amigos à medida em que se aproximava do seu destino final. Alasca.


Não o julgo pelo tipo de pensamento, e muito menos pela impensada atitude de abandonar uma vida e viver uma existência longe de tudo. Quantas vezes já quissemos largar tudo e simplesmente fugir para outra realidade, deixar o passado para trás, no único lugar que ele deveria permanecer? Porém não temos coragem necessária para recomeçarmos do zero, falta fôlego para dizermos adeus mesmo que só em pensamento, alguma coisa sempre nos mantem na linha, presos por muros pesados e impenetráveis. Tente responder a pergunta: onde você está preso agora? Christopher é a representação daqueles que já não aguentam ficar aprisionados por muito tempo. Sua história de vida se tornou um legado, uma lenda para quem a conhece. 


Talvez ele tenha sido egoísta por rejeitar a vida que tinha pela frente, ou pelo sofrimento que causou a sua família com a partida, como muita gente diz ao seu respeito,  porém se a teimosia dele nunca o tivesse levado para o Alasca, sua vida continuaria sendo a mesma. Acredito que algumas histórias são tão incríveis que precisam ser contadas em um livro ou produzidas dentro de um filme, ou inspiram trilhas sonoras como no caso de Into the Wild (título original) com as músicas do vocalista de Pearl Jam, Eddie Vedder, feita exclusivamente para o enredo. Toda a trajetória de vida de Christopher me emocionou do começo ao fim, fui atingida por reflexões tão intensas que me tiraram lágrimas. Captei cada aspecto da memória de Chris como se pudesse absorver um pouquinho da sua coragem, mesmo que para coisas mais inferiores que suas as decisões utópicas. 

Christopher McCandless muda o seu nome para Alexander Supertramp, ou apenas Alex. Sua nova identidade reflete sobre o quanto insisti em deixar cada pedaço da sua antiga vida para trás e ser responsável pelo seu própria destino, para viver longe dos muros de concentro, da cidade de tijolos que sempre o aprisionou. Seu bem-estar se encontra na liberdade da natureza. Alex/Chis ensinou uma das maiores lições podemos aprender: é possível viver como seres humanos, ao invés de apenas máquinas programadas. 


"Se admitirmos que a vida humana pode ser regida pela razão, está destruída a possibilidade da vida."
  
Temos a mania de dizermos sim à hipocrisia do mundo, damos as costas ao que deveria ser realmente cultivado em nossas vidas. Damos prioridade ao dinheiro, a uma vida materializada e sem limites, entregamos a nossa vida a uma droga de status social, porque aprendemos que aquilo que você tem é mais importante do que aquilo que somos. Os valores foram invertidos. E sonhos estão sendo apagados por pessoas que já não sabem o que é sonhar. Se sentir satisfeito consigo mesmo e com todas as escolhas que já fizemos é mais importante do que renunciar uma vida feliz só para termos um pouco mais de dinheiro na conta. Tomando isso como base, Alex doa todo o seu dinheiro, abandona o seu carro, e diz adeus a uma vida criada por mentiras. 


"Acho que você deveria realmente promover uma mudança radica em seus estilo de vida e começar a fazer corajosamente coisas que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar. Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionado a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro." 

Alex era um jovem com o coração forte e uma alma cheia de sonhos. Apesar do seu triste fim, ele teve uma vida feliz porque foi o responsável pelo seu destino, mesmo que tenha sido livre e solto pela natureza durante 4 meses aproximadamente, encontrou o seu próprio lugar no mundo, mesmo que tenha sido afastado de qualquer sinal de civilização. Nos seus últimos dias de vida, se recordou de tudo o que fez até chega ao lugar que acabou de tornando seu último destino; se lembrou de sua família, das amizades que fez quando foi embora, dos lugares que conheceu à medida em que seguiu seu próprio destino, e rabiscou um breve adeus antes do fim:

"Tive uma vida feliz e agradeço a Deus. Adeus e que Deus abençoe a todos."


Sua solidão era sua maior companharia, porém quando percebeu que não seria capaz de voltar a civilização já que o seu caminho de volta estava inundado por um rio, percebeu que nem mesmo longe se manteve afastado de prisões:  a natureza se tornou literalmente sua prisão. Entrou em desespero por saber que nunca mais reviveria sua família e seus amigos, e isso foi um peso que esmagou toda sua esperança, um peso que dilacerou suas crenças por completo, e próximo aos seus últimos dias, percebeu o quanto sentia falta das relações humanas e que foi totalmente egoísta, e deixa isso claro ao escrever em uma de suas ultimas anotações:

"A felicidade só é real quando compartilhada."

Desistir por completo da sociedade, fugir dos seus vícios e de cada uma das suas loucuras e abandonar qualquer tipo de relacionamento com outras pessoas era também uma loucura de Alex. Seu ato egoísta foi deixar de lado aqueles que mais se importavam com ele, mesmo que fosse de um jeito torto e em meio a tantos erros. Uma pena que tenha faltado coragem para compartilhar com aqueles que o amavam suas descobertas. Portanto o que parece ser seu maior arrependimento se torna a maior lição tirada de sua história. (Frase em Itálico retirado do link). 


Curiosidades de Into the Wild 
  1. Toda a história no filme é baseada em fatos reais que aconteceram com Christopher McCandless em 1992. 
  2. Todo verão, desde que o filme estreou, são encontrados pelo menos meia dúzia de aventureiros perdidos na área de peregrinação onde morreu Christopher. 
  3. Para quem vai assistir o filme ou já o viu, enquanto Christopher esteve no Alasca foi abrigado por um ônibus que o chamou de "mágico", esse mesmo ônibus se encontra no Parque Nacional Denali, no Alasca. 
  4. Sean Penn (diretor) aguardou 10 anos para rodar o filme. Ele queria ter a certeza da aprovação da família McCandless para que o filme fosse realizado.
  5. O ator Emile Hirsch (Christopher) teve que perder 18kg para se tornar McCandless após ficar preso no Alasca.
  6. Foram necessárias 4 viagens ao Alasca, em diferentes épocas do ano, para a gravação de cenas.
  7. Nenhum dublê foi usado nas cenas de Emile Hirsch em Na Natureza Selvagem.
  8. O filme conta com a participação da atriz Kristen Stewart, a mesma da série de filmes Crepúsculo. 

Comentários

  1. Lu, estou tão encantada pela sua resenha! Que análise maravilhosa, reflexiva e enriquecedora. Você foi nas entrelinhas, nas poesias, nas diversas lições e já nos deixou com metáforas a serem pensadas e com críticas próprias a serem feitas. Já tinha ouvido falar sobre o filme, mas sempre o deixei naqueles finais de listas de pendências. Agora, sem dúvidas, ele irá para o topo. Esses dois lados que não viveram em equilíbrio e acabaram por trazer, de tal forma, mensagens densas sobre lealdade, autoconhecimento, valores, respeito e liberdade (lembrando que liberdade é saber ao que se prende), ficaram incríveis na obra e na sua análise. Adorei imensamente!

    www.semquases.com

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    1. Oi Vanessa, fico tão feliz que tenha gostado. Tentei encontrar os detalhes mais profundos e reflexivos do filme, reunir as informações que mais demonstravam um tom reflexivo e juntar com todos os pensamentos que o personagem principal transmitia a quem o assistia. Não me restam dúvidas de que você irá adorar toda a sua trajetória, ira causar questionamentos, dúvidas, afirmações e negações, irá olhar de uma maneira diferente as outras culturas, irá se apaixonar pela arte de conhecer novas pessoas e se aprofundar em histórias que até então pareciam distantes demais, é um filme para se pensar, acreditar, querer mergulhar na profundidade da vida humana. Bom filme <3

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  2. Assisti a este filme quando estudava, meus professor de sociologia/geografia rodou para a minha turma. Na época, lembro-me de achar o Christopher tão corajoso, mas ao mesmo tempo, tão solitário. Isto me faz pensar no quão longe poderíamos tentar fugir para não lidarmos com as dificuldades, fugirmos da nossa realidade, tentarmos nos encontrar. Quando o que realmente precisamos é enfrentar tudo, e aceitarmos um pouco. Nem sempre ir para longe de tudo, será o que vai nos salvar.
    O filme é ótimo, infelizmente eu, em meio aos hormonios adolescentes, não soube valorizar a história como deveria ;(

    Blog Insaturada

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    1. Existem tantas filmes que não soube valorizar a história, achei que isso só acontecesse comigo. Alguns filmes tem tantas reflexões por trás que no momento em que assistimos não somos capazes de entender, mas a medida em que vamos amadurecendo algumas coisas vão finalmente fazendo sentido. Christopher é um personagem tão corajoso, porém entendo o que o fez querer fugir de tudo e ficar longe da sua vida, e perto de uma realidade que ele sempre imaginou, e não o julgo por isso, algumas vezes eu já quis me afastar do mundo e fazer o impossível para ele me deixar em paz, só que com o tempo aprendi que não é assim que enfrentamos os problemas, é um jeito de fugir.
      Beijos Allana <3

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