Com quantos corações você ainda vai brincar?


Sabe quando algo não te deixa dormir tempo o suficiente para se sentir novo outra vez? Foi assim logo pela manhã, quando não tive nem se quer tempo para tomar meu café da manhã em paz e já existiam 17 ligações perdidas no celular. 
Mas essa não era a razão da minha impaciência. Meu nervosismo parecia ir além, como sempre. Ele estava se apaixonando, que droga. E reconhecer isso era a parte mais difícil, porque não se pode ignorar algo que pode destruir algo que lentamente vai sendo consumindo pelo fogo, é preciso jogar um balde de água fria antes do incêndio continuar. 
Eu só queria parar com essa história mal contada sobre paixão, dar um basta antes de ouvir um inesperado "eu te amo" logo no primeiro mês de namoro. Como sabemos quando é amor de verdade em tão pouco tempo?
- Oi amor. - ele atendeu no primeiro toque.
- Precisamos conversar - disse, seca demais para ser gentil. 
- Lá vem problema, não é?
- Consegue me encontrar? - perguntei, ainda decidida. 
- No lugar de sempre?
- Sim. 
Me vesti rapidamente, controlando os pulos de ansiedade que meu coração dava de vez em quando, mas já foi fácil me concentrar quando eu não estava preocupada demais com um relacionamento que não poderia continuar, não depois de tanto sentimento me sufocando, é melhor ter um grande espaço para respirar. 
Estava frio e chuvoso lá fora, e quase liguei novamente para marcar um outro dia, porém meu coração sempre foi preso a mesma frieza, e não me importava se era primavera ou outono, eu precisava colocar um ponto final em um capítulo que ainda não havia terminado. 
Ele parecia nervoso, e seu sorrisinho de garoto mimado parecia dizer muito bem isso. Desferi um olhar frio enquanto ocupada o espaço vazio ao seu lado. Não houve beijo, e me senti muito pior quando percebi que eu poderia ter sido mais gentil, mesmo com um breve selinho. 
Aquele silêncio de início pareceu inquietá-lo, mas enquanto ele prevalecia, eu pensava exatamente no que dizer, ou no que não dizer. 
- Isso não pode continuar. - disse, por fim. 
- Você se refere a nós? 
- Sim, não devemos continuar juntos. 
- Mas porque? 
- Porque não damos certo, e isso parece muito óbvio. 
- Essa resposta ainda não me convence. 
- Não preciso convencer, eu só quero que entenda. Me desculpa. 
Uma parte de mim queria continuar sentada ali e terminar de esclarecer tudo, mas por impulso, senti uma vontade extrema de ir embora e nunca mais voltar. Além do cheiro de cerveja, as recordações de quando havíamos nos conhecido ali me incomodavam. 
- Simples assim? 
Sua pergunta me fez parar, e quando voltei a encarar o tom apagado em seu olhar, uma pontada de culpa gritou o quanto eu era egoísta. 
- Você diz isso e vai embora, simples assim? - questionou. 
- Simples como deve ser. Odeio complicações, e você sempre soube disse. 
- Juntos somos qualquer coisa, mesmo uma complicação
- Não ainda, mas relacionamento sempre levam a isso. Assim é melhor, ninguém terá dor de cabeça.
- É isso que faz de você uma covarde! - ele exclamou, me deixando surpresa.
- Relacionamentos são perigosos, e não correr riscos é saudável.
- Aí então você para de tentar quando acha melhor? 
- Nossa história nem se quer devia ter começado.
- Você tem medo. - ele afirmou, sem qualquer sombra de dúvida. 
- Porque diz isso? - questionei. 
- Quem é ele?
- Ele quem? 
- O cara que destruiu o seu coração e suas expectativas. 
- Ninguém, isso não aconteceu. - neguei. 
- Vai, me fala. - ele insistiu. 
- Um cara. - minha impaciência me fez desabafar. 
- E você vai fazer a mesma coisa que ele fez contigo só porque tem medo de conhecer outro babaca? Se essa é a sua escolha, então se prepare para viver sozinha.
E em passos lentos e silenciosos, ele foi embora, me deixando naquele bar, enquanto eu apreciava minha vida como alguém que não sabe o que fazer, como alguém que não tem mais escolhas e nenhuma alternativa. Naquele momento, eu só quis amar e ser amada. 

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