Auto Retrato


eu deveria te desconhecer, 
reconheço apenas a estrela caminhando
sob a escuridão,
distante e inatingível que aos poucos
vem deixando de brilhar. 

teus medos revelam-se no escuro, 
a vela se derrete enquanto o fogo consome, 
e aquele olhar continua esperançoso, 
mesmo sabendo que o céu já não cintila 
resplandecente, 
nem lampeja, 
nem reverbera chuva ou sol, 
onde há somente uma 
lembrança sobrevivente.

a recordação de um olhar reluzente, 
de uma voz quietante, 
de um abraço passível, 
é a esperança que alumia o escurecer 
da noite constelada, onde aquela pequena
estrela murcha continua a se desfazer, 
desarrumar-se prontamente, 
destroçar-se de imediato, 
e retornar ao céu, até alguém vê-la 
novamente quase amortecida e fosca.

ninguém a desconhece, já que a sua 
luz reverbera entre estações, reflete décadas 
entre o cair e o levantar-se, mesmo às vezes
quase desaparecendo entre tantas outras, 
apagada por centímetros, 
ainda manifesta sua essência,
porém dessa vez sozinha.

não se apaga o brilho de quem não nasceu
para desvanecer a escuridão, 
e dissipar as 
trevas. 

- pode parecer loucura, mas essa estrela sou eu. 

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