Quando eu sumir do whatsapp.


Odeio essa sensação estranha que me ocorre toda vez que acordo e vejo uma mensagem pairando no topo da tela do celular, como uma espécie de aviso sobre as obrigações que a sociedade nos impõe: a necessidade de manter uma conexão em tempo integral com pessoas que não se preocupam nenhum pouco conosco, responder o maior número possível de mensagens em grau absurdo de aleatoriedade, realizar a leitura compreensiva da ininterrupta avalanche de mensagens que aparecem sempre que ligamos o wi-fi, a insistência de digitarmos uma resposta sempre que o outro deseja que o façamos. 

É essencial para a comunicação, ouço dizerem, mas qual tipo de comunicação, eu questiono, essa em que o trabalho não acontece somente no ambiente de uma grande corporação, mas o carregamos conosco dentro de um pequeno aparelho tecnológico no bolso, momento este em que uma mensagem nos acorda de um sono ainda nem existente para resolvermos algum bo urgente do outro lado da cidade, enquanto permanecemos com os olhos pregados em uma tela retangular por um tempo sem fim, trazendo todo o trabalho para casa. 

Em uma dessas manhãs, por exemplo, abri o aplicativo com certa implicância, aquele sentimento nostálgico de que deveria poupar minha solidão, ou solitude, daquelas, desculpe o termo usado, mensagens malditas de bom dia, os recados no formado de imagens felizes, animadas e repletas de uma satisfação que me pergunto ser possível às 6h da manhã, ou se existe uma necessidade constante de autoafirmação para mostrar que é privilegiado em meio a uma multidão de gente mal humorada.

Por uma questão de autopreservação, distanciamento proposital, e necessidade de defender o restante da minha privacidade, desativei aquele famoso “tick azul”, a tal confirmação de leitura, e aquela pressão psicológica advinda do “visto por último"; permaneço em alguns grupos pela simples preguiça de sair, e pela evitação de comentários e questionamentos pela saída, se não fosse isso, adeus, alguns são realmente necessário, admito, talvez do curso, e o meu próprio grupo solitário usado como blocos de nota e cabo ubs para o whatssapp web.

Me pergunto quanto tempo mais precisaremos gastar olhando uma tela insignificante, uma rede social altamente tóxica, para percebemos que uma máquina tecnológica, um aplicativo bilionário feito para almas empobrecidas, suga a conexão interna enquanto nos aproxima de um abismo, um vazio no meio da sociedade; às vezes sinto falta de mim, de estar comigo, sem que o outro também esteja presente, e quando digo outro, me refiro a essas pequenas criaturas insuportáveis que não conseguem entender o verdadeiro significado do vácuo, uma resposta não respondida é evidência o bastante para encerrar qualquer assunto, pelo simples direito que tenho de não precisar justificar absolutamente nenhuma das minhas escolhas. 

Gente mal intencionada que faz questão de interromper o isolamento alheio, aquele momento tão nosso em que se tem a pretensão de colocar a cabeça no lugar, olhar para dentro, fazer uma meditação no estilo zen-budismo, preparar um café na manhã sem a pressa de um dia cansativo, para tudo ser interrompido por uma mensagem capaz de sabotar a paz interior, e nos dar a sensação estranha de que tudo ainda tende a piorar, as relações tendem a morrer lentamente daqui para frente, conhecer alguém nunca te tornou tão fácil como nos dias atuais, e isso é mais trágico do que um alívio. 

Consigo contar no dedo os amigos que vale a pena ter no whatssapp, o restante, que me perdoe, um dia ainda excluo e nem foto minha mais irão ver. 
@lua_intensa

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