Esses malditos quilômetros que nos separam


às vezes você esquece que carrego uma parte do mundo dentro de mim, que sou tão inflamável quanto uma chama próximo de algum ambiente tóxico, que sou forte e ao mesmo tempo vulnerável. Algumas vezes eu também sou como você, tenho medo de sair lá fora e acompanhar o ritmo de um dia agitado, observar os ônibus lotados surgindo um atrás do outro em linha reta no lado esquerdo da avenida principal, você tem medo que chova porque um guarda-chuva pesa demais na mochila, respira com dificuldade quando imagina o fone de ouvido esquecido no quarto. 

tenho medo do desconhecido do mesmo jeito que um bando de pessoas estranhas te apavora, sinto o coração arrancado do peito fugindo pela boca, remoendo o peito em pequenos estilhaços que não controlo ou diminuo. sou apenas uma ótima atriz que finge bem, aquela que coloca uma máscara para ocultar o seu pequeno pânico desfigurado em poucos instantes. me escondo como você em um pequeno cubículo que mal cabe dois corpos como o nosso, porém pertenço a classe fingidora. 

somos tão parecidos, porém não acredita que sejamos o mesmo lado da moeda quando tudo o que você consegue enxergar são apenas as minhas contrariedades expostas, os traços que por natureza não me definem, mas que você insiste em atribuir a mim. somos tão próximos, mas esquecemos a nossa proximidade quando finge - tão bem quanto eu - que meu jeito é indiferente, que os desejos que compartilho sempre pertencerão apenas a mim, e nunca a você. 

os quilômetros são a tortura, porque os sinto até mesmo quando seguro a sua mão, ou quando me entrego a você em um abraço apertado que suga a minha alma. fingo que tudo bem ser assim, sem contar que a distância que existe ainda me destrói, me permito aceitar. o pior tipo de amor é aquele que aceita o tudo com medo de não ter nada. parei de culpar-me pelos quilômetros estreitos e sufocantes que me atacam o fígado, mas o que posso fazer eu, a não ser aceitar que tentar não adianta, que lutar não resolve, e mudar já não adia o fim. 

não o fim de verdade, mas aquele final que acontece quando ainda estamos juntos. queria poder ir além do que as palavras me permitem, mas tenho apenas estas para me aliviar a angústia que causa a distância em mim. não somos dois corpos juntos, somos duas almas separadas por alguns quilômetros de distância. me permita ir além algum dia, diga sim quando o amor estampar a beleza das cores e a certeza de que pertencemos um ao outro, sem que haja um caminho tão espaçado entre nós. 

sua amada.

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