um aviso aos arrependimentos que ficaram

Fui embora e vocês me acompanharam com insistência, como se não quisessem partir dessa caminhada pertencente apenas a mim. Me arrancam lágrimas quando menos espero, desesperam-me como se eu estivesse a um segundo de desmanchar as minhas conquistas e me fazer em pedaços novamente. O silêncio é a brecha que possibilita tantas lembranças de virem à tona, antes de tentar afugentá-las ao máximo eu me permito consumi-las por um tempo inteiramente longo. 

Tento inutilmente apagá-las, destruí-las em pedaços pequenos, quase intocáveis, porém continuam cortantes e destruidoras. O arrependimento bate à porta as seis, enquanto o dia ainda se prepara para acoitar as janelas fechadas e os corpos adormecidos, à mim resta apenas a insônia das noites mal dormidas, e as batidas tão mascaradas que se torna quase imperceptível notar sua chegada rasteira. 

Sinto que sou perseguida pelas incontatáveis escolhas mal feitas que a vida me propôs a tomar, mas não sei em qual direção estas me conduziram ou se onde cheguei é o suficiente, nada se assemelha aos planejamentos silenciosos que pareciam perfeitos em minha cabeça, ou se a desilusão da existência me fez sentir a realidade despencando sobre mim, mas aqui já não é como antes. 

Os arrependimentos me tiram o gosto da permanência e continuidade, sufocam-me dia após dia, onde internamente sou torturada por lembranças que me remoem as tripas, que me despem a ponto de me deixar entrevado na pele a minha fraqueza em seguir em frente sabendo que tudo poderia ser diferente, mas não é, por minha causa. É exaustivo fugir, esconder, e recuar quando os arrependimentos me devoram tão perfeitamente, como se fosse uma pequena obra de arte tê-los tão próximos de mim. 

Comentários

Postagens mais visitadas