Quem eu fui e quem eu sou

Dessa vez, uma foto não me basta, e só a preguiça de procurar uma já me faz aceitar que não haverá nenhuma fotografia de antes ou depois, porque embora eu tenha continuado com o mesmo tom castanho escuro e alguns cachos a mais no cabelo, e o tom da pele tenha se escurecido um pouco, e haja algumas tatuagens espalhadas pelo corpo, e continue a mesma magreza de quem um dia já fui, e meus olhos tenham a mesma tonalidade, e a essência da minha alma permaneça quase a mesma, eu já não sou quem eu era antes. 

A Lua de agora fez o impossível para conseguir apagar o passado inteiro de uma vez só, porque a Luana de antes era outra, que agora quase desconhece. De aniversário em aniversário, fui percebendo que não era assoprar uma velinha que me fazia mais velha, não era o passar ligeiro de um ano que me fazia ver os contornos da vida de outro jeito, eu amadureci quando chorei uma noite inteira e no dia seguinte precisei encontrar forças o suficiente para colocar um sorriso no rosto. 

A Luana de 2009 já escrevia, já se encontrava em pequenos poemas que lia por aí, já amava as palavras sem ao menos entender o seu significado, já se derramava em páginas de livros que embora simples, já possuíam o complexo da vida, já começava a amar as entrelinhas de textos e procurava colocar em pedaços velhos de papel alguns rascunhos de quem era. a Lua de 2019 jogou fora todos esses rascunhos envelhecidos por achar que não importavam mais. 

A Luana de 2009 se sentia perdida, já acreditava que um dia iria encontrar alguém para amar incondicionalmente, e já colecionava pequenas cicatrizes na alma por sentir que algo faltava e que existia um pequeno vazio para preencher, mas ela não sabia o que era. a Lua de 2019 ainda procura um caminho para seguir, porém não se sente mais perdida, se sente abraçada pelo desconhecido que a espera, e encontrou alguém para amar, e transformou as pequenas cicatrizes em lindos poemas, e percebeu que o que faltava pôde se deparar na escrita: amor. 

A Luana desde 2009 (quem sabe desde sempre) chora escondido no quarto, no banheiro, na janela do ônibus, e se desmorona por inteiro quando se vê sozinha. a Lua de 2019 continua chorando escondido, às vezes em outros ombros encontra um espaço para se desconstruir, mas ela se tornou mais forte também, superou os dias ruins, e lutou contra a desesperança da vida e todos os pesares que um dia já lhe sufocaram, caiu algumas vezes, mas em todas se levantou. 

A Luana de 2009 era uma criança. a Lua de 2019 ainda é, mas só porque quer rir como uma, ter a mesma inocência para se surpreender com os pequenos detalhes da vida, o mesmo desejo de nunca perder o gosto pelo sonhar, brincar, sorrir. a Lua de 2019 quer ser feliz, quer fazer o que ama, buscar o melhor para si, continuar aprendendo com os tombos, as decepções, nunca deixar de buscar o aprendizado na vida e suas inúmeras lições, quer acima de tudo, amar, a tudo e a todos. 

Agora eu não sou mais Luana, eu sou Lua. 

Até postaria uma foto minha, mas não tem como fotografar o interior. 

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