Sobre as mentiras que eu te contei


Eu te disse algumas mentiras que doeram na pele, que formaram cicatrizes profundas demais em todo o meu corpo, coisas que eu nunca imaginei pensar em fazer, eu fiz. Senti o peso da culpa dilacerando todas as minhas forças internas, fazendo esvair toda luz que você me fez sentir ao longo de tanto tempo juntos e tantos momentos vividos que agora parecem fugir de mim como se eu fosse mais uma vez o próprio perigo.

Não vou esquecer aquela sensação ruim que senti no peito quando vi você chorando pela primeira vez com uma dor intensa demais no olhar para deixá-la em silêncio. Te dei todas as opções que existiam, você poderia me bater, gritar comigo, me xingar, ir embora, e eu não me importaria com nenhuma delas, mas você apenas continuou em silêncio, e isso machucou mais do que qualquer coisa que você poderia fazer comigo naquele momento. 

Não sei o quanto pode doer um coração partido, mas senti cada pontada de angustia me sufocando por dentro. Uma parte enorme de mim queria voltar no tempo para desfazer todo o passado e outra parte queria apenas seguir em frente, mas eu estava presa naquele instante, presa no presente, e nada do que eu fizesse poderia me tirar de lá, por mais que meu coração gritasse para eu ir embora de uma vez por todas, dizendo que talvez assim fosse mais fácil para nós.

Eu poderia ter implorado o seu perdão por todas as mentiras que contei, por tudo o que fiz, mas eu não tinha certeza se adiantaria, porque talvez eu nunca mais me perdoasse. Talvez fosse demais desculpar-me por destruir o futuro, e o pedaço do sonho que construímos juntos, e o lar que imaginamos e a sensação de ter os filhos correndo pela casa. Senti todo o futuro em chamas, gritando em meio a um caos descontrolado e incerto, sem esperança alguma de construir cada pedaço quebrado, mas então você provou o contrário. 

Na verdade. não fui eu que te tirei da dor profunda e te convenci a dar uma segunda chance, foi você que me arrancou de toda a tristeza, mesmo em meio a sensação agonizante de nunca mais sermos tão únicos um para o outro e nem se quer sermos os mesmos de antes, você preferiu encarar um futuro incerto e reconstruir cada página queimada ao invés de trocar toda a história, de me trocar por uma outra personagem qualquer só para preencher o vazio que ficaria se eu não estivesse mais presente. 

O gosto do arrependimento é amargo, mas saber que nunca mais irei cometer os mesmos erros e nem sentir a mesma culpa por uma escolha que eu jamais deveria ter tomado e por mentiras que nunca se quer poderia ter contado, torna-se doce o aprendizado, a lição, o tapa na cara que eu mesma me dei por merecimento. O futuro não é mais a mancha cinzenta que vi, é só um quadro em branco que agora em diante iremos recomeçar a pintá-lo, sem arrependimento, culpa ou medo.

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