Você não se lembra nenhum pouquinho da gente?


- Oi.
- Quanto tempo!
- Verdade. 
- Você mudou.
- Não.
- Tá diferente. 
- Talvez.
- Parece que amadureceu. 
- É, bastante.
- Tô vendo que cortou o cabelo. 
- Cortei. 
- Ficou legal. 
- Obrigado. 
- Como você tá?
- Tô bem. E como andam as coisas?
- É difícil. 
- O quê?
- Explicar. 
- Como assim?
- É que...
- Continua. 
- Não. 
- Vai, fala.
- Melhor não. 
- Porque?
- Não é nada demais. 
- Então termina. 
- Só tô impressionado. 
- Com o quê?
- Com você.  
- Comigo? Mas...
- Nem te reconheço. 
- É, eu cresci. 
- O tempo passou rápido então.
- Passou mesmo. 
- Quatro anos. 
- Não entendi. 
- Deixa pra lá. 
- Fala. 
- Você não se lembra?
- Do quê?
- Não tem mais importância. 
- E eu devia me importar com o quê?
- Sabe que dia é hoje?
- Claro, é sábado. 
- Dia 15. 
- E daí?
- E o mês?
- Novembro
- Você não se lembra de novembro?
- Não estou entendo.
- Novembro de quatro anos atrás. Não se lembra?
- Não, eu deveria?
- Desculpa, esquece. 
- Me explica, por favor. 
- Você não vai entender. É que você foi a pessoa mais importante que já conheci, a única que foi capaz de mudar cada ponta solta. Assumo que eu deveria ter dado a minha vida pra fazer essa nossa história de quatro anos atrás dar certo, mas cê foi embora. Eu deixei você ir tão facilmente que naquele instante não percebi o quanto isso era capaz de me matar. E sem você, parece que passei esses últimos anos sendo devorado por dentro, sentindo sua falta toda vez em que acordava e percebia que cê nunca mais ia voltar. Tentei superar. Tentei cicatrizar o ferimento, estancar o sangue, mas o corte acabou sendo fundo demais. Demorou pra curar, mas recuperei as minhas forças, e segui em frente, mesmo sabendo que cê nunca mais seria minha, porque eu deixei você ir, deixei que você partisse, deixei que você falasse aquele adeus que jurou nunca dizer. Não tentei te impedir, não te chamei pra uma conversa, não te dei nenhum motivo pra não ir embora, e por isso você foi.
- Cê que sabe. 
- Então tchau. 
- Adeus. 

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