Talvez eu seja uma garota de dramas


Quem me conhece de verdade sabe que eu tento ser forte até mesmo quando a vida me derruba do último degrau da escada, pode parecer loucura, mas eu prefiro engolir toda a dor, colocar tudo dentro de uma caixinha e escondê-la no peito. Faço do coração um deposito de amores não correspondidos, brigas não resolvidas, e todos os problemas que alguém da minha idade pode chegar a ter. Não é fácil colocar uma máscara e fingir que não tenho carregado um peso enorme nas costas. Minha cota de mentiras já está chegando ao fim, e a pior delas continua sendo mentir pra mim mesma, tentando dizer que talvez eu não esteja tão sobrecarregada, mas sinceramente estou tão exausta de fingir que o tempo inteiro todas as coisas estão perfeitas. 

Preciso de tempo pra entender que nada vai bem, que de vez em quando a vida nos obriga a participar de um desses dramas de novela, reviver todas as cenas dramáticas que Shakespeare já escreveu. Necessito de espaço pra compreender o que a vida está exigindo de mim, porque parece que não é apenas a pilha de trabalhos da faculdade, ou toda a concentração que o serviço exige de mim, e muito menos o cansaço que sinto depois de um dia inteiro de treino no muay thaiA luta é aqui dentro do peito, mais especificamente no lado esquerdo. Não é por causa do transito caótico que preciso enfrentar todos os dias em São Paulo, ou porque não consegui terminar a maratona daquele filme que acabou de lançar na Netflix. 

Se a gente não fizer nada pra recarregar nossa bateria, a vida vai tirando bem lentamente todo o restante da nossa força, porque querendo ou não, cada pequena batalha do dia a dia exige muito de nós, seja pra levantar da cama às 5 horas da manhã e se convencer de que serão apenas mais 5 minutinhos deitado, ou pra enfrentar o chefe pegando no seu pé a cada segundo. Se queremos algo, somos obrigamos a pagar um preço por isso, mas às vezes o valor é alto demais pra pagar à vista, e é aí que começamos a viver pela metade. Talvez eu nem seja uma garota de dramas, talvez eu apenas seja o reflexo de uma exaustão me consumindo. Mas o problema é que eu tô fugindo de todas as cenas e capítulos que vêm com uma alta dose de dramalhão. Eu tento me convencer de que sou forte o bastante pra lidar com toda a pressão, sou sempre a que tem todos os conselhos na ponta da língua, mas eu fico com medo só de me imaginar perdendo toda essa imagem de mulher corajosa, meu corpo estremesse só em pensar em assumir todas as minhas contusões, fico na defensiva diante de qualquer chance de verem as minhas feridas, me escondo por pânico de parecer fraca, mais do que eu realmente gostaria de ser. 

Eu me importo com cada palavra que dizem ao meu respeito, me importo mais do que deveria. Sou orgulhosa demais pra mostrar que de vez em quando sou uma covarde dessas que abandonam o jogo antes de chegar ao final e que saí correndo quando a porra toda foge do controle, mas dessa vez tá parecendo que eu não vou aguentar todas as travessuras que a vida tá pregando. A insônia não diminuí, o coração não reduz o ritmo apressado, e a mente não consegue se concentrar. Tá doendo pra caralho enfrentar o mundo inteiro quando a armadura já está enferrujada, e pesa mais uma tonelada. 

Tô sentindo as feridas abertas, e não dá pra estancar o sangramento interno com uma atadura ou apenas colocando um band-id em cima. É claro que vão dizer que é só mais um desses dramas, mas ninguém entende o que se passa dentro da gente. Ninguém vai criar uma lista de tudo o que estou sentindo e tentar simplificá-la o máximo possível, porque esse sentimento todo é complexo demais até mesmo pra mim, mas de vez em quando a gente tem que se render a um bom drama, deixar de se fazer de difícil quando na verdade só precisamos desabar por completo pra começar de novo. 

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