1. O garoto que parecia meu ex-colega do ensino médio

Conheci recentemente o blog 1001 pessoas que conheci antes do fim do mundo e de uma maneira estranha percebi o quanto sempre deixei que as pessoas fugissem de mim ou nunca permiti que conhecessem todos os lados meus que escondo na correria do dia a dia, e isso me machuca e me fere profundamente, seja por causa da timidez, vergonha ou insegurança, não posso deixar que o adeus seja dito e nem ser a primeira a dizê-lo, por isso comecei o projeto 1001 pessoas aqui também, talvez assim eu consiga deixar marcado a essência de cada uma dessas almas que já passaram por mim e não fizeram morada, deixá-las registradas aqui dentro também.


Meus pensamentos estavam cheios de problemas, por isso uma pontada de dor persistiu mais do que o normal, era sexta-feira, lugar cheio, vozes que não se calavam, pessoas que não paravam quietas em nenhum segundo, e eu ali no meio delas, achando que minha vida não poderia piorar, porém no fundo, meu instinto dizia que já havia começado a piorar há muito tempo. 

Era a gravação de um dos programas mais assistidos do SBT, e a emissora fazia questão de tornar aquelas horas as mais agradáveis possíveis, tanto para os expectadores que se voluntariaram para fazer parte da plateia, quanto para a grande quantidade de funcionários que levavam tão a sério o trabalho que mal se distraiam, nenhum descuido era o suficiente para desviar suas atenções.  

Não era a melhor hora de se manter presa a semana estressante e muito menos a ideia de que ela havia passado tão demoradamente que nos meus cálculos já deveríamos estar no final de dezembro, dando boas vindas ao tão aguardado 2017, mas tenho que admitir que me concentrar nos temas do programa foi o maior obstáculo, e não pense que foi porque eram chatos ou monótonos. Minha cabeça estava a mil por hora, como se mesmo parada eu estivesse correndo uma maratona. 

Nunca me dei muito bem com câmeras, a droga da timidez sempre ditou as regras. Eventos sociais exigem um olhar entusiasmo e um sorriso de canto a canto como se fosse uma obrigação oferecer a minha melhor perspectiva de garota sociável, porque realmente era um dever parecer feliz. Naquele momento meu objetivo era colocar uma máscara social e fingir que os problemas ficaram do lado de fora do estúdio, sem me esquecer de sorrir com a mesma frequência irritante em que tentava me adaptar a quantidade de câmeras que existiam ali, perto da apresentadora, Cristina Rocha, da entrada principal, atrás do palco, e principalmente no teto. 

Mas olha que engraçado, entre tantas pessoas que se vestiam de um jeito tão agradável e atraente, fiz o possível para continuar admirando a destreza com que os profissionais manejavam as câmeras e os equipamentos, sou extremamente desastrada até mesmo com as coisas mais simples. Grande parte era homem, mas não havia ninguém sem o símbolo do SBT na parte de trás da camiseta, e logo essa fixação por todos os responsáveis nos bastidores me levou a encarar por tempo indeterminado, o cara mais lindo naquele lugar, posso até estar exagerando, porém ele era dono de um toque natural de charme e simpatia, e isso era o suficiente para deixá-lo atraente. 

Não sei se devo chamar de sorte ou azar, e nem mesmo se é legal apelidar essa desconhecida coincidência, mas esse cara era uma cópia fiel de um ex-colega do último ano do ensino médio, concluído ano passado. A semelhança demorou um pouquinho para ser percebida, primeiro me questionei inúmeras vezes quem era aquela figura, e porque aquele jeito descontraído de andar era tão familiar, as roupas largas pareciam ser facilmente reconhecidas, e o cabelo, ahh, esse não negava. Negro como tinta, bagunçado de um jeito único, uma especia de confusão que só ele entendia. 

Ele usava aparelho também, como esse meu ex-colega, e digo ex-colega porque no meio das pessoas que frequentam o mesmo lugar que a gente existem aqueles que não se tornam amigos próximos e nem criam nenhum laço mais forte de amizade do que só aquele "Oi, tudo bem?" de cumprimento. 2015 terminou e nunca mais soube dele, apesar de gente de boa, ouvia certos boatos de que ele fumava maconha, e como ele dormia em todas as aulas e normalmente apresentava aquele aspecto de vermelhidão nos olhos, resolvi não colocar minhas mãos no fogo por ele. 

Acabou. Nunca mais o verei no estúdio, a não ser que bata novamente aquela vontade de voltar ao SBT [...] quem sabe futuramente em busca de uma vaga de estágio pela faculdade de Jornalismo, pensei nessa possibilidade umas quinhentas vezes hoje, mas o impossível só existe de acordo com fé de cada um, e desde então, estou acreditando que tudo pode acontecer. 

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