Bagunça de alma vazia, e de coração rebelde
Quando abri os olhos pela manhã, eu já não era mais o pássaro solto de meses atrás. A cama ainda estava bagunçada. Não senti a mínima vontade de levantar e arrumá-la, então continuei encolhida, como se ali não pudesse existir mais ninguém, porém para o meu azar, havia alguém no qual uma parte de mim não estava disposta a ver.
Essa era a graça de estar casada. Em uma relação como essa, você não pode simplesmente fugir de suas responsabilidades, porque o medo de assumir seus erros não pode ser maior do que as próximas consequências, por isso eu fiquei tanto tempo presa a alguém que não merecia. Às vezes, achamos que reconhecer nossas fraquezas é continuar sendo fraco, mas é sempre daí que surge a vontade de fazer algo para mudar.
E quem dera eu tivesse tido essa coragem para começar de novo, para gritar um basta alto o suficiente para todo o bairro ouvir, mas o silêncio é como câncer, vai matando a gente por dentro lentamente.
- Tudo bem, amor? - o tom suave daquela voz me fez despertar para a realidade, porém de um jeito inesperado e confuso. Ele se ajeitou ao meu lado, se aconchegando como se pudesse permanecer ali para sempre.
Balancei a cabeça, e logo em seguida, uma pontada de dor pareceu explodir contra todos os meus neurônios. Reprimi um gemido, e minha garganta se fechou. Não consegui sorrir.
Ainda em silêncio, tentei sair do quarto, mas fui rendida pelo toque gélido e forte de Júlio.
- Você não parece bem - ele disse.
- Estou cansada. Só isso. - tentei mentir, mas a voz fraca parecia entregar tudo.
Desci as escadas correndo, tão rápido a ponto de não aguentar meus próprios passos. Entrei no banheiro do primeiro andar. O ambiente ainda frio e úmido me fez arrepiar, mas eu vasculhei o cesto de roupa como alguém que procura uma salvação.
Disquei o primeiro número que veio a mente.
- Alô - alguém do outro lado respondeu. - Mari?
Apesar de saber que Henrique não veria, balancei a cabeça, e entre lágrimas que rolavam impassíveis, encontrei minha própria voz.
- Não aguento mais. Me ajuda, por favor.
- Calma, Mari.
- Algo que não tive nesses últimos meses foi calma.
- Limpa seu rosto. Para de chorar - Henrique exigiu. - Agora.
- O que vai adiantar? Ele vai perceber, sempre percebe.
Encarei meu reflexo no espelho embaçado. A parte extrema dos meus lábios estavam marcadas por fragmentos roxeados, e aquela mesma cor enegrecida parecia circular o ponto onde meus olhos mal se abriam.
- Você pode fazer diferente. Ser livre outra vez. Me encontrar na próxima quinta a noite e a gente dança até o restante dela.
- Isso é impossível. Se eu sair, Júlio me mata.
- Na janela da cozinha, na parte de fora tem um frasco.
- Não posso fazer isso.
- Então você prefere que te matem aos poucos?
- Não tem outro jeito?
- Só volta pra mim, Mari.
- Sem problemas.
Ele desligou. Limpei o rosto, e fiz o possível para melhorar aquela aparência fúnebre. Depositei o celular no cesto, sob uma pilha de roupas sujas, e sai. Peguei o vidro depositado na parte de fora da janela e despejei todo o seu conteúdo na pequena xícara de café.
- Júlio, preparei o seu café. - disse ao entrar no quarto.
Ele estava nu, e enquanto se vestia, parecia reparar na beleza dos pássaros que dançavam lá fora, em mais uma manhã de inverno. Minhas mãos tremiam, mas quando entreguei a ele o café quente, não reparou no meu incerto nervosismo.
- Parece melhor.
Sorri, olhando para o seu peito descoberto.
O primeiro gole pareceu descer rapidamente. Quente e seco, sem hesitar. O segundo foi mais demorado, e ele parece apreciar o leve sabor da bebida.
- Me desculpa, Júlio. Eu te amo.
- Porque... - ele começou, mas não houve tempo.
Sua circulação já devia estar dominada por aquele líquido incolor e neutro. Tentei segurá-lo antes que caísse, mas o tempo era inexistente, os segundos se dissolveram em pó, e uma história chegou ao fim, e eu não sabia se era a dele, ou a minha.
Por um último impulso, beijei os seus lábios, frios como sempre.
- Apesar de tudo, eu sempre te amei.
Olhei os pássaros soltos pela janela, e sorri. Sem culpa, sem dor, e sem arrependimento. Livre e fria.
Balancei a cabeça, e logo em seguida, uma pontada de dor pareceu explodir contra todos os meus neurônios. Reprimi um gemido, e minha garganta se fechou. Não consegui sorrir.
Ainda em silêncio, tentei sair do quarto, mas fui rendida pelo toque gélido e forte de Júlio.
- Você não parece bem - ele disse.
- Estou cansada. Só isso. - tentei mentir, mas a voz fraca parecia entregar tudo.
Desci as escadas correndo, tão rápido a ponto de não aguentar meus próprios passos. Entrei no banheiro do primeiro andar. O ambiente ainda frio e úmido me fez arrepiar, mas eu vasculhei o cesto de roupa como alguém que procura uma salvação.
Disquei o primeiro número que veio a mente.
- Alô - alguém do outro lado respondeu. - Mari?
Apesar de saber que Henrique não veria, balancei a cabeça, e entre lágrimas que rolavam impassíveis, encontrei minha própria voz.
- Não aguento mais. Me ajuda, por favor.
- Calma, Mari.
- Algo que não tive nesses últimos meses foi calma.
- Limpa seu rosto. Para de chorar - Henrique exigiu. - Agora.
- O que vai adiantar? Ele vai perceber, sempre percebe.
Encarei meu reflexo no espelho embaçado. A parte extrema dos meus lábios estavam marcadas por fragmentos roxeados, e aquela mesma cor enegrecida parecia circular o ponto onde meus olhos mal se abriam.
- Você pode fazer diferente. Ser livre outra vez. Me encontrar na próxima quinta a noite e a gente dança até o restante dela.
- Isso é impossível. Se eu sair, Júlio me mata.
- Na janela da cozinha, na parte de fora tem um frasco.
- Não posso fazer isso.
- Então você prefere que te matem aos poucos?
- Não tem outro jeito?
- Só volta pra mim, Mari.
- Sem problemas.
Ele desligou. Limpei o rosto, e fiz o possível para melhorar aquela aparência fúnebre. Depositei o celular no cesto, sob uma pilha de roupas sujas, e sai. Peguei o vidro depositado na parte de fora da janela e despejei todo o seu conteúdo na pequena xícara de café.
- Júlio, preparei o seu café. - disse ao entrar no quarto.
Ele estava nu, e enquanto se vestia, parecia reparar na beleza dos pássaros que dançavam lá fora, em mais uma manhã de inverno. Minhas mãos tremiam, mas quando entreguei a ele o café quente, não reparou no meu incerto nervosismo.
- Parece melhor.
Sorri, olhando para o seu peito descoberto.
O primeiro gole pareceu descer rapidamente. Quente e seco, sem hesitar. O segundo foi mais demorado, e ele parece apreciar o leve sabor da bebida.
- Me desculpa, Júlio. Eu te amo.
- Porque... - ele começou, mas não houve tempo.
Sua circulação já devia estar dominada por aquele líquido incolor e neutro. Tentei segurá-lo antes que caísse, mas o tempo era inexistente, os segundos se dissolveram em pó, e uma história chegou ao fim, e eu não sabia se era a dele, ou a minha.
Por um último impulso, beijei os seus lábios, frios como sempre.
- Apesar de tudo, eu sempre te amei.
Olhei os pássaros soltos pela janela, e sorri. Sem culpa, sem dor, e sem arrependimento. Livre e fria.
Oiee Luisa, que novidade incrível.
ResponderExcluirObrigado pelo carinho. Vou dar uma espiada agora no seu blog.
Espero que esteja gostando do conteúdo do blog.
Bjs,