A garota que continuou naquela janela


(Leia essa crônica ao som de James Blunt - You're Beatiful)
Seu coração disparou como um tiro ecoando através de um silêncio mortal e inconsciente, dizendo a uma multidão de expectadores que o começo estava ali, diante de seus olhos, pairando mais uma vez entre a linha tênue da linha de chegada e o fio do último segundo. 

Seus cabelos cumpridos e repletos de um brilho sistemático e bruto reagiam a ventania da velha casa com uma ilusão tão efémera quanto a imagem que inundava seus pensamentos a cada ritmo involuntário de seus batimentos. Era ele o motivo de tanta inquietação, era o deslumbre rápido e ao mesmo tempo constante de uma verdade que já não poderia fazer parte de seu presente, mas o seu futuro permanecia entre aquele olhar esverdeado e o sotaque paulistano que tanto gostava de ouvir. 

Por um segundo, ela fechou as pálpebras e tentou desprender as lágrimas para longe de si, para o extremo de seus olhos, para o limite de sua sanidade, porém uma parte de si entendeu que não valia a pena não se deixar desmoronar, que era muita infantilidade fingir que era forte tempo o suficiente para convencer o todo mundo que sua fraqueza era inexistente, e que para um recomeço não é necessário apagar os erros de uma vida inteira, basta querer escrever uma nova história. 

Mas porque isso não a reconfortava tanto? E porque seu coração ainda ardia em suas próprias dúvidas? Quando ela finalmente abriu os olhos, e enxergou mais do que apenas a extensão do céu nublado, servindo de um belo esconderijo para aquele horizonte ensolarado se esconder, entendeu que sua alma era reformada por um mistério que também era infinito, e às vezes, insuportavelmente oculto, e em outros instantes, ainda mais nublado, porém o brilho ainda estava lá, através de um véu de sentimentos incompressíveis, que ninguém jamais soube desvendar. 

E talvez todas as pessoas se escondam por trás de algo também, pensou a garota com a mente do tamanho do mundo, e alma parecida com a imensidão do mar. Anoiteceu naquele dia, enquanto a paisagem mudava e tudo se tornava ainda mais estranho e distante, mais difícil de ser decifrado, e mais fácil de ser esquecido, e então ela observou atentamente as estrelas, e cada uma dela murmurou apenas um juramento: o que é para ser, será. 

E por toda uma vida, aquela janela se tornou seu juramento, seu lugar de espera enquanto promete uma trégua a esperança que ainda a mantem ali, que ainda a faz crer que aquele olhar cheio de um verde milagroso ainda notará a nova tonalidade de seus cabelos, ou o sorriso espontâneo desprender de seus lábios com um misto único de satisfação, mas por enquanto, será apenas um dia de cada vez. 
(CRIADO POR LUANA GALDINO)

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