Ela é bagunça


A bagunça mais linda que já se viu, ou não. No meio das bagunças tem pedaço de vidro espalhado, papeis molhados, vasos quebrados. Talvez ela não seja a bagunça mais linda, mas é sim a mais sincera, pois não nega o que é. Ela te acolhe e te avisa: é fácil se assustar com o desastre aqui dentro. Mas por favor não se assusta, que aqui dentro tem muito amor. E se mesmo assim você se assustar, não vai embora, me ajuda a arrumar e fica. Ela é bagunça por querer abraçar o mundo, por querer fazer chover a todo custo. É melancolia e alegria, dependendo do pique do dia. Tem tentado aprender a conviver com as roupas jogadas sob a cama e com a sujeira debaixo do tapete. Você bem sabe, é difícil colocar um ponto final na desordem desse coração. 

Entre as cobertas, abraçada aos travesseiros, os olhos inchados e vermelhos falam muito mais do que poderia aqui escrever. Se olhar bem, é possível que enxergue as gotas de dor que lhe corroem a alma à anos e talvez ainda encontre as fagulhas de felicidade deixadas pelo caminho. A cada tropeço um novo amor, a velha mania de curar a antiga dor com um novo amor. Amor. O grande causador da confusão em que habita. Com o coração cansado de tanto lutar. As lágrimas regam as feridas e ela reza para que tragam a cura. E entre as fortes batidas no peito, ela respira, para não perder o sentido da vida. Porque você sabe, ela é bagunça, e bagunça não se tem por onde começar ou terminar. E isso a perturba, muito mais do que a você. 

Na madrugada, entre o fim e o começo de um dia, ela guarda para si todos os questionamentos, todos os medos, e dorme, na esperança que pouco a pouco os nós serão desfeitos. Esconde as marcas que carrega entre os pulsos, as feridas no estômago, as olheiras das noites em claro. Ela carrega o universo em si, por isso bagunça, sua própria vida e a de quem chega, por descuido, por ser intensa, além do que deveria. É como um livro marcado com inúmeras cores, com vários rabiscos, desenhos, manchas de tintaMarcas da vida. Vestígios do que um dia foi, do que é e do que talvez um dia seja. ou não. 

É coração barulhento, é amor, é música, é vida. É imensidão, assim como oceano, é fácil se afogar entre seus braços, beijos e olhares. É preciso saber nadar, mergulhar, ter coragem de ir mais fundo, só assim para lhe descifrar, porque você sabe, ela é bagunça. A bagunça mais linda que já se viu, ou não. É como um balão, dificilmente está no chão. Gosta do céu, da aventura, da adrenalina. Tenho quase certeza que não foi feita para pousar, foi feita para vida, feita para voar, viajar. Mas por ser bagunça, é de todo mundo e pensando bem, não é de ninguém.

- Victória Dantas
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Comentários

  1. Vic, eu amei esse texto, suas palavras me fizeram pensar que às vezes a nossa vida é essa bagunça que não conseguimos esconder, e que estamos aprendendo a viver e a esconder as marcas do passado que ficaram em nós, e toda essa nossa bagunça acaba saindo da alma e chegando até a vida de quem acabamos de conhecer, que crônica linda, simplesmente amei <3

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    1. Colecionamos bagunças ao decorrer de nossas vidas e somos quase obrigados a lidar com elas ou organiza-las. Bagunçamos nossa vida e das outras pessoas, mas como dizem, somos bagunças bonitas <3

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